Nessa edição, a revista Studium apresenta o resultado principal de minha pesquisa contemplada no XIV Prêmio Marc Ferrez de Fotografia (FUNARTE/MinC): o livro “Colecionadores Privados de Fotografia Brasileira” (Editora Intermeios, São Paulo, 2015), com acesso gratuito ao PDF da publicação. O livro centra-se em seis coleções: Coleção Joaquim Paiva; Coleção Nakagawa Matuck; Coleção Rubens Fernandes Junior; Coleção Silvio Frota; Coleção Eder Chiodetto e Coleção Georgia Quintas & Alexandre Belém. Para disponibilizar o livro e compor com o tema da pesquisa convidamos alguns autores e também lançamos uma convocatória aberta sobre coleções, arquivos e exposições referenciais.
Jorge Coli reflete sobre tempo, realidade e morte na fotografia, e nos surpreende ao fazê-lo analisando fotografias de origem pericial, nas quais encontra um lugar de beleza, por mais agressivas que nos pareçam aos olhos, e um lugar ilusório de um instante passado.
Georgia Quintas analisa de forma densa e minuciosa os álbuns de família da sociedade escravocrata canavieira de Pernambuco a partir do acervo da Coleção Francisco Rodrigues (Fundação Joaquim Nabuco).
Carla Adelina Craveiro Silva e Marcelo Eduardo Leite contemplam em sua análise uma série de Thomaz Farkas, conhecido mais por suas atividades pioneiras na fotografia moderna brasileira. As fotos foram realizadas no Nordeste do país, com uma vertente documental, no encontro e convívio com muitos realizadores que formaram a conhecida Caravana Farkas.
Pedro Vasquez liberta-se na Internet à busca de um imaginário pessoal, inspirado no conceito de museu imaginário, concebido por André Malraux. A partir de imagens extraídas do site Morgue File Free Photo Archive, cria um personagem e compõem uma trajetória de sua vida amorosa e de suas expectativas em relação ao futuro.
Paula Cabral centra-se em duas exposições referenciais ocorridas no MAM/SP a partir da coleção de fotografias do próprio museu, questionando classificações do fotográfico, que, quando inserido no âmbito das artes encontra fluxos libertários de sua condição mediática.
Eric Danzi Lemos nos apresenta as origens da Coleção Pirelli/Masp de Fotografia e sua importância no cenário museológico brasileiro a partir de seu início em 1990.
Vanessa Sobrino Lenzini mergulha nos arquivos do Boletim do Foto Cine Clube Bandeirantes, entre 1948 e 1951, e encontra relações com movimentos e associações internacionais de fotografia, principalmente com a “fotografia subjetiva” de Otto Steinert, como influência e atualização em suas criações.
Agradeço aos autores que me acompanham e que formam o conteúdo dessa edição.
Fernando de Tacca
Os álbuns de família em Pernambuco: relíquia da memória visual e filtro da cultura
Georgia Quintas
Este artigo aborda, através da antropologia visual, os retratos de família e suas significações no âmbito simbólico, social e cultural da vida privada da sociedade patriarcal-escravocrata canavieira de Pernambuco no final do século XIX e início do XX. A temática contempla particularidades do acervo iconográfico investigado na Coleção Francisco Rodrigues (Fundação Joaquim Nabuco, Recife - PE). Memória, história e imagem constituem uma rede de representações sobre pertencimento, legitimização social no núcleo familiar patriarcal.
This article discusses, through visual anthropology, the family portraits and their meanings in the symbolic sphere, social and cultural privacy of sugarcane-patriarchal slave society of Pernambuco in the late 19th and early 20th century. The theme includes particulars of the iconographic collection investigated in Francisco Rodrigues Collection (Joaquim Nabuco Foundation, Recife - PE). Memory, history and image constitute a network of representations of belonging, social legitimization in the patriarchal nuclear family.
Imagens engavetadas: A coleção mais que particular de Thomaz Farkas
Carla Adelina Craveiro Silva / Marcelo Eduardo Leite
Este artigo aborda uma série fotográfica produzida por Thomaz Farkas entre as décadas de 60 e 70. Ele é conhecido pelo envolvimento com a fotografia moderna brasileira, pela documentação da construção de Brasília e pela produção no âmbito do cinema-documentário, porém a referida série revela um novo olhar. A partir do conhecimento sobre sua trajetória, busca-se compreender as características assumidas pelo fotógrafo nas imagens dessa série feita no Nordeste brasileiro. Farkas constrói um olhar despretensioso, acentuando um processo de descobrimento direcionado tanto para o lugar quanto para o seu fazer fotográfico.
This article discusses a photographic set produced by Thomaz Farkas between the 60s and 70s. He is known for involvement with the modern Brazilian photography, the documentation of the construction of Brasilia and production within the film-documentary, but this series reveals a new way of looking. From the knowledge about his trajectory, we seek to understand the characteristics assumed by the photographer on the images of this series made in the Brazilian Northeast. Farkas builds an unpretentious look, accentuating a discovery process directed both to the place and to his way of photographing.
O caderno dos lamentos e das recriminações
Pedro Karp Vasquez
Tomando como ponto de partida as premissas expostas por André Malraux em Le Musée imaginaire, em 1947, o autor combinou-as com os modernos instrumentos de disponibilização gratuita de imagens da Web para elaborar um exercício de escrita e edição de imagens ilustrativo das novas possibilidades criativas atualmente oferecidas pelas tecnologias de base digital.
Taking as a starting point the assumptions exposed by André Malraux in Le Musée imaginaire, in 1947, the author combined them with modern tools of freely distribution of images at the Web to produce a writing exercise and picture editing, illustrative of some of the new creative trends possibilities currently offered by digital-based technologies.
Quando os limites são postos em xeque: a fotografia inserida no discurso da arte contemporânea no Museu de Arte Moderna de São Paulo
Paula Cabral Tacca
O presente artigo tem como objetivos apresentar um breve histórico da constituição da coleção de fotografias do MAM São Paulo, assim como duas exposições realizadas com obras do acervo, e debater a importância da superação da visão tradicionalista e paradigmática que perpassa a questão do fotográfico e seus limites na interação com a arte. Defende-se aqui, a partir de propostas de aquisições e de exposições advindas do museu e, em especial, a partir da convergência com o pensamento de dois teóricos franceses contemporâneos, Philippe Dubois e François Soulages, a hipótese de que a fotografia inserida no discurso e no contexto da arte contemporânea não precisa e não deve ser classificada, tendo em vista que as imbricações entre as artes constituem situação natural de um momento artístico em que é mais importante perceber caminhos, fluxos, fragmentos e atos constitutivos de obras e de artistas do que definir limites e enquadramentos para as produções contemporâneas que a todo tempo gritam por rupturas, esgarçamento de fronteiras, hibridismos e experimentações.
This article aims to present a brief history of the collection of photographs of MAM São Paulo’s formation, as well as two exhibitions with works of the collection to aid to discuss the importance of the overcoming traditionalist and paradigmatic vision that permeates the photo issue and its limits the interaction with art. It is argued here, from the proposals and acquisitions made by the museum and particularly from the convergence with the thought of two contemporary French theorists, Philippe Dubois and François Soulages, the hypothesis that the photography inserted in the context of contemporary art does not need should not be classified. Considering that interactions between arts is a natural situation of an artistic moment in which one the most important thing is to follow the paths, the streams and the fragments making part of the constitution of works and artists than define limits and frameworks for contemporary productions which all times cry out for breaks.
Coleção Pirelli/Masp de Fotografia: uma prática museológica modernista em um museu de arte no Brasil
Eric Danzi Lemos
A Coleção Pirelli/Masp de Fotografia teve início em 1990 com a proposta de formar um conjunto representativo da fotografia contemporânea brasileira. A mostra da primeira edição aconteceu entre 13 de junho e 7 de julho de 1991 no espaço expositivo do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). Ao longo das dezenove edições realizadas até a redefinição em 2013 com a implementação da FotoBienal Masp, foram reunidas 1.147 imagens de 297 autores. A coleção, que pode ser considerada a experiência mais longeva de salvaguarda sistemática de fotografias em museus de arte no Brasil, traz consigo um modelo de interpretação que juntamente com outras iniciativas contribuiu para a consolidação da fotografia entre as artes visuais nos museus de arte no Brasil.
The Pirelli/Masp Photography Collection started in 1990 with the proposal to form a representative set of Brazilian contemporary photography. The show of the first edition took place between June 13 and July 7, 1991 in the exhibition space of the São Paulo Art Museum Assis Chateaubriand (Masp). Over the 19 editions held until the redefinition in 2013 with the implementation of FotoBienal Masp, 1.147 images of 297 authors were gathered. The collection can be considered the most long-lived experience of systematic safeguard of photographs in art museums in Brazil, brings a model of interpretation, which together with other initiatives have contributed to the consolidation of photograph among the visual arts in art museums in Brazil.
A tradução do moderno no acervo do Foto Cine Clube Bandeirante: “fotografia subjetiva” e museu
Vanessa Sobrino Lenzini
O presente estudo apresenta as noções que embasaram a prática da fotografia moderna, no Foto Cine Clube Bandeirante, por meio da análise dos artigos publicados em seu Boletim, entre 1948 e 1951. Se a relação com os museus possibilitou uma troca de valores entre as instituições, a ideia de uma “fotografia subjetiva” criava uma base teórica para esta prática que se queria atualizada. Assim, o estudo procura identificar as intenções subjacentes a uma produção que, ao se colocar como parte do moderno, traduzia e adaptava ideias oriundas de associações fotográficas internacionais, buscando conquistar espaço e projeção no circuito artístico e cultural da cidade de São Paulo à época.
This study intends to present a discussion about photography based on articles published on the Foto-Cine Clube Bandeirante (FCCB) Bulletin between 1948 and 1951. This study tries to balance the articles ideas, raising the notions that supported the concept of FCCB’s photographic production as modern in the artistic and cultural circuit of São Paulo. This study intends to identify the intentions inherent to a production which spreads itself as part of the modern. Most of the articles are translated from international photographic associations magazines and became reference for photographic discussions at the Club and stated its cosmopolitan character.
A fotografia, o tempo, a morte
Jorge Coli
Neste texto Jorge Coli explora a questão da fotografia a partir de questionamentos sobre a o tempo e a realidade. Tendo como ponto de partida tais reflexões sobre o caráter temporal do presente e da objetividade fotográfica, Coli parte para uma interrogação das imagens de fotografia pericial e suas belezas. Esta análise abre espaço para uma compreensão da fotografia enquanto "instauração de um mundo paralelo ao mundo, que teima em trazer, para o presente, a ilusão do instante passado.”
In this text, Jorge Coli researches the matter of photography through questions regarding time and reality. Taking as a starting the temporal character of the present and photographic objectivity, Coli starts an interrogation on criminal evidence photography and its beauties. This analysis opens space for a comprehension of photography as “establishing a world parallel to the world, which persists to bring, to the present, the illusion of a past moment.”
Expediente Studium 37
ISSN: 1519-4388
setembro de 2015
Imagem da capa: Marche républicaine pour Charlie Hebdo à Paris, le 11 janvier 2015 ©Abaca
Arte da capa: Lygia Nery
Equipe Studium:
Coordenação Editorial: Fernando de Tacca
Comissão Editorial: Iara Lis Schiavinatto e Mauricius Farina
Assistente Editorial: Paula Cabral Tacca
Consultoria Bibliográfica: Maria Lúcia N. D. Castro
Revisão: Ieda Lebensztayn
ß-tester PC: Rogério Simões da Cunha
Estagiário: Gabriel Pereira
Suporte Técnico e Programação: Daniel Roseno da Silveira
Webmaster e designer: Lygia Nery
Conselho Editorial:
Adilson Ruiz
Eduardo Castanho
Francisco da Costa ( FUNARTE/RJ)
Haenz Quintana Gutierrez ( UFSC)
Hélio Lemos Sôlha ( UNICAMP)
Helouise Costa - ( MAC/USP)
Joel La Lana Sene; ( USP)
Luiz Eduardo Robinson Achutti ( UFRGS)
Massimo Canevacci - (Universidade La Sapienza, Roma)
Maria Eliana Facciolla Paiva - (ECA / USP)
Milton Guran ( Cândido Mendes/RJ)
Rubens Fernandes Junior ( FAAP/SP)
Laboratório de Media e Tecnologias de Comunicação
Dpto. de Multimeios / Instituto de Artes da Unicamp