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Reconhecimento étnico no Brasil e o indigenismo
Visto inicialmente como um conjunto de concepções teóricas e de políticas desenvolvidas pelo Estado Brasileiro e outros setores da sociedade, para a emancipação do índio à comunhão nacional, o indigenismo provocou, nesse dualismo de sua política, desde a ocupação colonial a partir de 1500, a "descaracterização" étnica e o extermínio de vários povos. Aqueles povos que foram obrigados a viver como brancos, dispersando-se na crescente população dominante, tiveram suas características sociais, religiosas, físicas e culturais próprias violadas e diluídas durante o processo imposto pela política de catequeses, civilização e integração do índio aos moldes europeus. Não obstante, nas últimas décadas do século XX, vários povos considerados extintos vêm reaparecendo ou ressurgindo no cenário político nacional, apesar da indiferença e do abandono do indigenismo oficial que desconhecia sua existência. Apesar desse fenômeno de ressurgimento étnico versus abandono acontecer em todo o Brasil, é na região Nordeste - porta de entrada da colônia européia - que inicialmente ressurge uma série de etnias tidas como "incorporadas" à sociedade brasileira, consideradas extintas nos registros oficiais da Fundação Nacional do Índio - FUNAI. Faz-se necessário, portanto, dar visibilidade a essa questão e diferenciar estes "novos povos", dos já conhecidos e/ou reconhecidos pela FUNAI, anteriormente definidos como "índios emergentes"[3], termo que se torna ainda mais significativo quando abordamos a problemática indígena na atualidade devido à própria dinâmica da ressurgência étnica, que sinaliza questões não só na ordem do político, mas principalmente antropológicas que necessitam ser observadas com profundidade. Segundo o Movimento Indígena, a ressurgência indígena[4]revela, no caso desses povos, uma visibilidade reconquistada e a resistência indígena ao longo de 500 anos[5]. Ou seja, tidos como exterminados, os povos ressurgidos ou emergentes mantiveram uma memória viva, dinâmica, principalmente no que se refere às lutas e resistência dos povos indígenas, impondo à antropologia brasileira o desafio de construir um objeto próprio de abordagem etnológica totalmente diferenciado dos estudos até então realizados. |
[1] Mestrado em Multimeios - na linha de pesquisa Antropologia Visual - do Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas - Unicamp, sob a orientação de Fernando de Tacca. Ficha catalográfica (Biblioteca Central) Am68i: Amorim Siloé Soares de. Índios ressurgidos: a construção da auto-imagem, os Tumbalalá, os Catókinn, os Kalankó, os Karuazu e os Kóiupanká [s.n.], 2003
[2] Formado em Antropologia pela "Escuela Nacional de Antropología e Historia" - ENAH, México. [3] Termo inicialmente utilizado para designar os Kalankó, Karuazu e Tumbalalá, foi utilizado pela imprensa alagoana que divulgou a "apresentação" ou a emergência destes povos à sociedade. Veja os jornais: Tribuna de Alagoas, n. 808, ano III, Maceió, 25 de abril de 1999; Gazeta de Alagoas, Maceió, 25 de abril de 1999. Posteriormente, foi adotado o de "ressurgido" pelo Conselho Indigenista Missionário- CIMI para diferenciá-los de grupos sociais economicamente emergentes. Porém, ambos os termos são utilizados por antropólogos e pelo Movimento Indígena, e pretendem designar a condição de povos indígenas marginalizados no contexto das políticas indigenistas oficiais e que buscam seus direitos como povos diferenciados.[4] É importante esclarecer que os povos ressurgidos na realidade descendem dos povos que os reconhecem e os apoiam em seu ressurgimento; geralmente são povos ou comunidades que emigraram de suas aldeias em busca de sobrevivência. Em ordem, os povos Tumbalalá descendem e foram reconhecidos primeiro pelos Tuxá (Bahia) e Truká (Pernambuco) e se apresentaram publicamente em 1998. .Em Alagoas, os Kalankó, em 1998, os Karuazu, em 1999, os Kóiupanká, em 2001 e os Catókinn, em 2002, descendem e foram reconhecidos pelos Pankararu (Pernambuco) e pelos Geripankó (Alagoas). [5] Conselho Indigenista Missionário - CIMI. Outros 500, construindo uma nova história, Editora Salesiana, São Paulo, 2001:157-165. |